Às vezes é difícil...
18.3.15
....olhar o lado bom da vida. Ou melhor, não é difícil olhá-lo mas é difícil relativiza-lo relativamente ao lado menos bom. Ou mau, mesmo. Porque ele também existe.
Ultimamente ouço muito falar de notícias tristes. E não daquelas do conhecido daquele amigo do amigo ou da avó da amiga. Não. Daquelas aqui mesmo ao lado. Do filho da amiga. Da amiga. Do colega de escola. E não são aquelas notícias tristes mas que têm solução. São mesmo daqueles casos tramados ou raríssimos ou altamente improváveis.
Há não tanto tempo atrás, para conhecer alguém que tivesse morrido com cancro tinha que pensar muito. Hoje tenho os exemplos mais próximos. Essa maldita doença levou as avós dos meus filhos e todos os dias o Manuel me vai perguntado onde fica esse sítio tão longe onde elas agora estão.
No outro dia, numa conversa entre amigos, falávamos disto e de quais são as nossas expectativas em relação ao nosso futuro. Ou queremos acompanhá-los até se formarem. Ou até casarem. Ou terem filhos. E eu confessei a minha: quero que se lembrem de mim. Não me interpretem mal. Sonho poder acompanhá-los pela vida fora mas tenho tanto medo de não o conseguir fazer. E como nunca fui rapariga de me pôr grandes expectativas tento pensar friamente que quero que se lembrem de mim.
Às vezes (muitas vezes) tenho medo de estar a fazer tudo mal. Tenho um trabalho a tempo inteiro, tenho a minha marca e sobra-me tão pouco tempo para apenas estar. Há dias, semanas em que não me sobra tempo nenhum para não fazer nada. As minhas horas de almoço do meu trabalho são quase sempre aproveitadas para trabalhar na Cappies and Lanas e são raras as noites em que, depois de os deitar, não tenho alguma coisa para fazer: preparar encomendas, coser etiquetas, preparar moldes. Muitas vezes mesmo naquele intervalo de fim de tarde entre o chegar a casa e ser hora de irem dormir eu estou ali com eles mas com a cabeça em tudo o que tenho para fazer e no medo de não conseguir chegar a tudo ou de não conseguir que seja o molde perfeito ou que a combinação não fique bem. Um medo idiota porque apesar de, naquele momento, não conseguir fazer nada em relação a isso, estou só a perder o melhor de estar com eles.
Não me interpretem mal, não faço isto por obrigação. Faço porque sempre gostei de trabalhar e sempre fui educada a não viver à sombra de nada. E lá em casa, falamos muito sobre isto, de trabalhar muito enquanto podemos para poder dar aos nossos filhos as melhores oportunidades que puderem ter. Para isso e para nos salvaguardarmos de alguma eventualidade como aquela que já nos aconteceu com o Manuel. Mas claro que fica sempre a dúvida. Porque esta coisa de não sabermos se as decisões que tomamos vão ter o impacto que achamos no futuro... Esta coisa da incerteza do rumo da vida. Esta coisa é do mais tramado que há.
E desculpem este desabafo (isto se tiveram força para fazer scroll down até aqui) mas estas são as minhas maiores angústias e elas às vezes são tão intensas que não consigo que fiquem apenas dentro de mim.
Queria ter a leveza de uma certa ignorância de não saber que as coisas más existem. De não ir às vezes na rua e ter vontade de me sentar num canto a chorar porque sinto falta da minha mãe. Ou de não conseguir adormecer por ter medo pela minha amiga que agora está doente. Queria ter essa leveza mas herdei da minha mãe esta incapacidade de parar o cérebro e esvazia-lo de preocupações. Felizmente também herdei esta capacidade de conseguir dar a volta a estes pensamentos e procurar o que há de bom nas pequenas coisas e de usar as mãos para terapia com o tricot ou outros trabalhos manuais.
Mas há dias difíceis e estas últimas notícias têm-me feito vacilar. Às vezes é difícil ver o lado bom da vida. Mas temos que fazer com que não seja impossível.
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Vai. Trabalha. Avança. Faz coisas. Faz-te feliz. Passa menos tempo a limpar e mais a brincar na rua. Conversa com eles. Conta-lhes as histórias de quando eras pequena. Avança, que enquanto avançares estás viva. Enquanto avanças fazes memórias. (A falta que os meus pais me fazem é também avassaladora. Muitas vezes. Muitos dias. Mas eles continuam um bocadinho em nós.)
ReplyDeleteUm beijinho Sara. E obrigada. Mesmo.
DeleteEna pá, se a Madeira fosse o Porto, ia ter contigo para um café neste preciso momento:) Tantos pensamentos em comum. Acho que te vou escrever um mail...abraço!
ReplyDeleteIsso é que era Silvia! :)
DeleteSão as coisas que nos vão povoando por dentro...
Isso, faz isso. bj
um abraço apertadinho! <3
ReplyDeletesinto muitas vezes o que descreves...
Um beijinho Miriam :)
DeleteAcho que especialmente depois de sermos mãe, provavelmente quase todas sentimos um bocadinho destas angústias...
De uma Patrícia para outra Patrícia, vão haver dias melhores. É agarrar o que a vida tem de bom e não esquecer de olhar em frente. Um beijinho Patrícia...
ReplyDeleteSim, claro que sim :) de uma patricia para outra, obrigada :)
DeleteNo fim.....bem lá no fim. ....
ReplyDeleteEles não vão só se lembrar de ti....Eles vão se lembrar cheios de orgulho!
é mesmo aí que quero chegar Rosa :)
Deletepiu...
ReplyDeletetambem estou aqui e sabes que os meus dias nao sao diferentes dos teus e o mesmo em relação aos meus pensamento.
em relação ao resto... espero que a mafi continue sempre a ser como agora, em que me diz a sorrir "quando eu me casar, tu ja vais estar morta" e espero que quando eu estiver morta, ela vai continuar com esse sorriso dela e espero muito que se lembre de mim!
a minha maior angustia é nao ter conseguido dar-lhe uma mana, sempre pensei que ela ficaria mais bem acompanhada qiando fosse mais velha, para enfrentar estas coisas todas, mas na verdade, nao sabemos nada, como vai ser o futuro... por isso a nossa unica preocupacao devia ser em fazer todos os hojes da melhor maneira que conseguimos! bjs
As crianças têm cada conversa. adoro estas idades de descoberta.
DeleteEntendo a tua angústia mas não penses assim....porque nunca se sabe onde a vida nos vai levar. Não é matemático que os irmãos sejam melhores amigos pela vida nem que os filhos únicos sejam mais solitários.
Eu acho que não sou :)
e nós tambem temos cada conversa - devem pensar eles :))
DeleteClaro que os teus meninos vão se lembrar de ti, pela mãe fantástica que és e pelo amor incondicional que lhes dás. Eu, apesar de longe, 90% do ano, estou sempre com os meus pais, e ás vezes apetece-me chorar e correr para os braços deles, mas sabes que mais? Eles ensinaram-me a ser forte. E foi isso também que a tua mãe te transmitiu, a força dela passou para ti.
ReplyDeleteForça, Patrícia!
Beijinhos.
Ana, A Policromia
A Policromia no Facebook
Um beijo Carolina, a tua boa energia sente-se logo :)
DeleteHá dias assim... mas outros mais coloridos também chegam sempre.
ReplyDeleteBeijinho
Sim Isilda é mesmo assim, Há quem diga que precisamos destes dias para valorizarmos ainda mais os mais coloridos ;)
DeleteDeve ser do tempo... Estas semanas também têm sido complicadas para mim e cheias de pensamentos "malucos" que não param, e vontade de chorar porque, no momento, parece que não se pode fazer mais nada. E não é preciso ser mãe para pensar assim... Talvez estejamos todo(a)s a precisar de férias. Ou pelo menos que o sol e o calor venham para ficar, por bom tempo, para nos animar.
ReplyDeleteAté lá, tenta-se viver os dias da melhor maneira, aproveitam-se os momentos com aqueles de quem gostamos, deixa-se o tempo passar na esperança que traga com ele dias melhores.
Beijinho Patrícia.
É claro que os teus filhotes se vão lembrar, e muito bem, de ti ;)
Obrigada Dani, sim também acho que estes momentos são pasageiros. E também acho que temos andado todos a precisar de dias de sol para nos ajudar a iluminar!
Deleteobrigada :) e que os dias se tornem mais leves!
Patrícia, OBRIGADA!
ReplyDeleteObrigada por toda esta sinceridade, autenticidade, partilha e humildade.
Comove, mas depois completa ... "envaidece" por saber que existem pessoas como tu assim tão perto.
Um beijinho, e muita coragem
Ana Cláudia
Um beijinho Cláudia e obrigada pelas palavras tão generosas.
DeletePatrícia , MUITO MUITO OBRIGADA por TUDO!
ReplyDeleteParabéns pela corajem, força interior, por nos mostrar de forma genuína e transparente o seu caminho, nem sempre fácil.
Acima de tudo: OBRIGADA pelo verdadeiro espírito solidário que notoriamente a caracteriza e isto digo-o não só pelo que escreve aqui mas pelas sua ATITUDE AMIGA.
Por isso, e por tudo o mais, um sentido BEM HAJA.
Tudo de EXCELENTE para si e FAMÍLIA.
Beijinhos,
Maria José