Maio é o mês que nos traz piores memórias. Às vezes passa a correr e por entre os dias vamo-nos conseguindo esquecer disso e permitindo-nos saborear os dias quentes sem pensarmos muito nos dias tristes que este mês nos trouxe nos últimos anos.
Claro que depois temos estes sorrisos. Estas gargalhadas sonoras que nos fazem rir por contágio. As conversas cada dia mais elaboradas. Um exemplo. Na semana passada, na escola, o Manuel informou que o Dr. Carlos (especificando que não o avô, outro), o cientista, tinha dito que ele não podia comer cenoura. E já agora também não precisava de comer tomate e alface. E disse assertivamente com um: verdade meio cantado no fim. Ele faz isso quando nos está a tentar dar a volta. Diz-nos um - verdade - assertivo mas meio cantado. Denuncia-o logo.
Lá em casa à hora de adormecer temos um novo jogo. Eles não fazem ideia de que eu sei já que quando sentem os meus passos a aproximar-me do quarto atiram-se para a cama e fingem que estão a dormir. Até o Joaquim. Não entendo bem como é que uma criança que diz umas 3 ou 4 palavras já é tão experiente nesta arte. Adiante. Deito os dois ao mesmo tempo, beijinhos e doces sonhos e mal viro as costas começo a ouvir gargalhadas e provocações. Depois começa o jogo do Joaquim atirar a chucha e só ouço os pezinhos do Manuel a correr de um lado para o outro para a ir buscar e entregar. Deita-se e começa tudo outra vez. Deixo-os andarem nisto uns bons 15 minutos altura em que me faço de surpreendida e digo que acabou a brincadeira. E lá adormece. O Joaquim não sem antes tirar toda a roupa que conseguir. Normalmente por esta ordem: meias, calças, soltar o body interior e, mais recentemente, tirar a camisola. Já o apanhei a tentar tirar também a fralda e acho que mais dia menos dia vai ser bem sucedido. Quando adormecem lá vou ao quarto e visto-o novamente. Todas as noites.
Ultimamente tenho feito o exercício da desconstrução da força. Explico. Resolvi (finalmente dirão lá em casa) que não é mau pedir ajuda. Que não é mau chamar a babysitter para uma tarde no fim de semana quando estou sozinha para ter umas horas para fazer o que bem entender. Um mergulho no mar. Uma ida ao cinema. Às vezes sinto-me cansada e aprendi que é normal e que não há nada mal comigo por causa disso.
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