É um pensamento ao qual volto muitas vezes: era tudo tão mais fácil quando eu era filha. Tinha todas as certezas e respostas. Hoje, na maioria dos dias, tenho perguntas. Para as quais não consigo encontrar solução. Isto provavelmente acontece em momentos de viragem. Aconteceu com a chegada do Joaquim quando senti que as minhas mãos não davam conta de todos os recados. Falei desse lado B da maternidade aqui. Provavelmente aconteceu com o Manuel também, claro. Mas a chegada do Manuel foi tão assustadoramente difícil que depois de ultrapassados os... desafios (chamemos-lhe assim), tudo foram facilidades e alegrias.
Agora, com a Isabel e com os meus braços a serem claramente curtos para as solicitações e preocupações, não consigo deixar de pensar nisto. Era tudo tão mais fácil quando eu era apenas filha e do alto da minha petulância achava que tinha as respostas todas.
Hoje dou voltas à cabeça para encontrar, nem digo respostas, mas pelo menos possibilidades. Porque cada um dos meus filhos é único e especial. E cada um precisa de mim à sua maneira. Diferente dos irmãos.
Preciso de acompanhar o Manuel nesta complexa descoberta das palavras escritas e dos números e das contas. Preciso de estar ao lado da Isabel nas suas noites ainda mal dormidas, na sua descoberta incessante do mundo. Pelo meio não posso descurar o Joaquim que quer sempre a atenção absoluta da mãe. Preciso pensar como o ajudar melhor nos seus problemas alérgicos e de audição. Preciso procurar médicos e ir às consultas. Preciso pensar como vou encontrar tempo para ajudar o Manuel nos trabalhos de casa com os fins de tarde de correria. Pelo meio preciso perceber como vou lidar com esta vontade da Isabel em comer sozinha e fechar a boca a tudo o que venha em colher.
Mas há dias em que acho que isto até é o mais fácil. Em que o mais difícil parecer ser esta permanente incógnita de saber se as nossas decisões vão ter o impacto que queremos no futuro. O futuro tem tanto de belo como de assustador. Esta velocidade estonteante a que o mundo evolui, esta pressão cada vez maior sobre os miúdos. Para não falar nesta frágil imagem da felicidade que se espalha pelas redes sociais.
Tantas vezes, depois de os deitarmos, conversamos sobre isto. Sobre as nossas preocupações. Sobre a falta que as nossas mães nos fazem. A nós e aos nossos filhos. Qualquer uma delas seria um bom contra-peso para estas nossas preocupações, não tenho dúvidas nenhumas. E eu quero acreditar que ambas tiveram dúvidas e medos como eu hoje tenho. Não me quero sentir tão sozinha. Quero acreditar que depois das dúvidas, medos e incertezas chegarei a bom porto como acho que elas chegaram.
Foi tão mais fácil ser filha. Mas é tão bom ser mãe. Só espero conseguir fazê-lo como elas.
*e uma fotografia da querida Carina Oliveira. Uma daquelas fotógrafas que tem sempre um brilho especial.
é mesmo assim. aqui a barricada é igual se bem que com crianças maiores, numa fase já bem diferente. tantas vezes me sinto filha sem mãe e sinto essa falta como se eu própria ainda fosse criança. elas fazem mesmo muita falta. sobre as alergias e os ouvidos, tenho uma longa história com a minha filha mais velha, se por acaso precisares de trocar cromos:D bjs
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