Um dia, talvez os miúdos venham espreitar aqui para ler sobre como eram os nossos dias. Os sítios onde íamos, o que gostávamos de cozinhar ou para onde gostávamos de passear. Como passámos a quarentena da pandemia de COVID ou como nos adaptámos ao capacete que o Manuel usou durante o primeiro ano de vida. Acredito que este blog — que criei nos corredores de um hospital, enquanto acompanhava a minha mãe na luta mais dura de que tenho memória — possa, então, cumprir o papel que sempre imaginei para ele: ser um diário de memórias.
A nossa vida, e o mundo à nossa volta, mudou muito desde o meu último post. Os miúdos cresceram, as nossas vidas profissionais tornaram-se (ainda) mais intensas e os nossos dias passaram a estar tão preenchidos que deixei de ter tempo (e, para ser totalmente honesta, vontade) de vir aqui registar as pequenas coisas do quotidiano.
O Instagram cresceu e tornou-se mais fácil documentar (quase) tudo com uma imagem. Foi giro, e até muito divertido, ter um álbum fotográfico organizado que os miúdos espreitam e para o qual vão contribuindo à medida que crescem. Mas, com o tempo, o mundo pareceu dividir-se entre o que era "instagramável" e o resto. Como se houvesse uma regra invisível, mas omnipresente, de que a vida tem de ser leve. E bonita. E saborosa. Sem birras. Cheia de acontecimentos.
E depois não. De repente, passou a ter de ser uma slow life, com pão caseiro de fermentação natural, tudo feito em casa, nada de coisas artificiais, mas sempre muito satisfatória, porque os dias tinham tempo para tudo.
E depois não. O Instagram passou a ter de ser realista, a mostrar a vida como ela é. Tão real que começámos a saber detalhes que não precisávamos de conhecer. Tudo ficou tão confuso que se tornou turvo. Como um labirinto.
Mas um dia, talvez os miúdos venham aqui espreitar e perceber como vivemos estes anos. Talvez leiam um pouco do que fui escrevendo e documentando. Eu própria tentei navegar essas águas — entre o que era suposto ser e como deveria fazer. Não sei o que irão achar, mas espero que consigam ver aquilo que sempre quis mostrar-lhes por aqui.
Será que estou de volta? Agora que os blogs sairam de moda, sou capaz de voltar.
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